quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Série Cartas (VI): Gratidão ao Poeta


A nossa gratidão em resposta ao poeta esperantinopense, 

Raimundo Carneiro Corrêa.


Raimundo Carneiro Corrêa, na calçada de sua residência fazendo suas leituras diárias,
em Esperantinópolis - MA

NAQUELA MANHÃ DE FIM DE ANO...


Ao meu amigo Raimundo Carneiro Corrêa.

 
Naquela madrugada, quase manhã, enquanto a grande maioria dos esperantinopenses dormia para a vida, e nem sequer o galo entoava seu canto inconfundível, apenas vez por outra o silêncio era irrompido pelo barulho dos veículos que passavam na Avenida Leal Arraes em disparada rumo a itinerários desconhecidos.

Sentados na antessala ao lado da garagem, onde os píncaros das árvores balouçavam timidamente seus galhos, eu e o meu gentil amigo, Raimundo Carneiro Corrêa, aguardávamos a Van que iria me transportar no regresso para casa, após quase dois dias hospedado em sua acolhedora residência, oportunidade em que fui ver de perto a cidade de Esperantinópolis, e a sua poesia que está sendo produzida na história daquela região. E, registre-se, poesia das boas! 


Todavia,  mediante a demora no transporte alternativo que me traria de volta a São Luís, proseamos por mais de duas horas. Escritor de pena afinada, com alguns livros já publicados outros ainda inéditos, e rumorejado naquele recanto bem agasalhado de inspiração, narra com detalhes a história do município desde os seus primórdios, fundado pelo barra-cordense Cândido Manoel da Silva, lá pelos idos de 1910, que a denominou inicialmente de “Centro do Boi”, com total desvelo e de invejável memória, que me impressiona e sinto invertendo os anos distantes entre nós dois. 

Em algumas vezes - bem raras - as suas recordações são entrecortadas por um momentâneo lapso de desmemória, resultante dos seus 72 anos bem vividos e sem nenhum vício. Autodidata, professor por muitos anos, Secretário de Educação do município, e poeta dos melhores da região do Médio Mearim.

Seu   aspecto   meio   frágil  e  dócil  no  falar,  conduz  determinadas  situações,  até  mesmo domésticas com lucidez e sabedoria. Raimundinho Carneiro, como é mais conhecido na cidade, por onde passa é sempre saudado com acenos de mãos e o sorriso largo no rosto, muito característico daquele povo simples e hospitaleiro.


O dia vai amanhecendo, trazendo consigo nuvens carregadas de solidão.  Sabemos que em poucos instantes íamos nos despedir. Um tanto me sentindo desconfortável pela demora do transporte, meu amigo esboça sempre um sorriso afável no semblante, que reluz nos seus olhos e no cruzar elegante das pernas. 

Chega,  enfim para nós,  a inevitável  hora da partida...  O  aperto  no  abraço  da  despedida traduz toda a emoção que nos envolve naquele instante. O veículo em tresloucada arrancada, subitamente instaura dentro de mim a sensação de muitos rios internos a escorrerem nos mananciais de minhas veias, que em aflição deságuam na desembocadura da saudade!... Enquanto o automóvel corta aquela rodovia entre desvios e buracos, começam a respingar algumas gotas daquelas nuvens esperantinopenses numa espécie de adeus... O meu coração descompassa e pula em minhas mãos! Cá dentro de mim, o véu das recordações projetam imagens que jamais serão esquecidas como um filme interminável. 
 
Após  passadas  as  emoções,  aos  poucos  no  trajeto da viagem, vão recobrando os meus sentidos normais. Lembro que a amizade é uma relação afetiva e voluntária entre seres sociáveis, e que habitou de vez em nós dois, onde a mutualidade sempre há de imperar. Nisto, eu e o meu novo amigo, temos muito em comum.


Francisco Brito de Carvalho
São Luís-MA, 20 de janeiro de 2012

2 comentários:

  1. Só você, meu caro Brito, para dizer assim, com tanta beleza e sinceridade nas palavras, desse grande escritor e poeta mearinense que eu já visitava e admirava por meio das letra, mas cuja mão só tive o prazer de apertar no início de dezembro último, quando estivemos juntos num evento cultural realizado em Pedreiras: o lançamento do livro PEDREIRAS - Fundamentos da sua história, de autroria do meu confrade Darlan Pereira Fernandes.

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    1. Caro Kleber lago, fico lisonjeada com sua presença aqui! Com certeza Francisco Brito e Raimundo Corrêa muito nos honram também com a "belezura" que é essa troca de cartas entre eles. Faça você também parte desse exercício de cordialidade em expressar sua amizade, admiração e anseios pelo que está por vir em nossa Literatura com gosto de água doce...

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