segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ALVORADA LITERÁRIA EM SOLO PEDREIRENSE


por Rita Pereira de Oliveira


Foto: Pedras Verdes
 Aos primeiros raios de sol, a natureza desperta numa eclosão de alegria. As aves, como arautos anunciam o amanhecer, as flores concluem o processo de amadurecimento dos botões e desabrocham, os animais saem dos seus esconderijos noturnos e vão à luta, enquanto na cozinha se prepara o desjejum para seguir, cada um, para seu oficio diário. O dia todo é cheio de atividades e à tardinha todos voltam para casa em busca do repouso merecido, para retomar, na manhã seguinte a mesma rotina do dia anterior.E assim, serão todos os outros dias, até que algo possa efetivamente mudar a atenção de alguém.

Assim como o ser humano repete um ritual diário em busca da sobrevivência, também a cidade pode se tornar acomodada na evolução e conservação de sua cultura, bem como, na produção de acervo adequado de fontes consistentes de informação ao seu povo, aos visitantes atentos e aos acadêmicos que reconhecem e respeitam as manifestações culturais de seu povo e buscam conhecê-las.

Falando de Pedreiras, quem a conhece sabe que detém um potencial cultural diversificado. Muito se fala sobre a capacidade dos pedreirenses de produzir trabalhos de grande valor, na poesia, nas danças, na música etc., porém, a oralidade pode difundir informações ao longo de uma vida, mas não representa uma fonte segura, fidedigna dos fatos. Somente o que está escrito formaliza a credibilidade do que se propaga.

Em se tratando de literatura, Pedreiras tem sido fecunda. A vila que foi berço de povos indígenas do grupo “Tupi”, posteriormente forçados a sair do Médio e se estabelecerem no Alto-Mearim para não serem dizimados dando lugar ao poderio de fazendeiros usurpadores do patrimônio desses nativos. Com esses fazendeiros vieram os escravos que passaram a fazer parte da estatística étnica deste território, que recebeu os migrantes fugitivos da seca que assolava o nordeste, sobretudodo Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte desde o inicio do século XX, pois foram sucessivas e violentas estiagens. Viu nascer Corrêa de Araújo, João do Vale, Kleber Lago, João Barrêto e Samuel Barrêto entre outros tantos.

O que se tem de história está nos registros da Paróquia de São Benedito em alfarrábios conservados desde o ano de 1940 e em um documentário histórico intitulado “A fonte nas Pedreiras”, organizado por Pe. Jacinto Brito enquanto pároco desta igreja.

Há um documentário organizado por Aderson Lago “Pedreiras apontamentos para sua história” que até pouco tempo, era a fonte mais popular e também mais consultada.

Recentemente foi lançado pelo historiador Darlan Pereira, “Pedreiras Fundamentos da sua história”, que reúne informações importantes e servirá como fonte de pesquisa para quem interessar.

Sobre a literatura pedreirense que, em prosa e versos reúne uma plêiade das mais completas. Ainda não se havia despertado para a necessidade de construir a história artística deste município tão rico em manifestações culturais diversas, como a poesia, as crônicas, a música, as danças e muitas outras. Os poetas e escritores têm suas obras publicadas para o deleite dos amantes da leitura e da poesia, mas o que dizer da história desse comportamento artístico? Pois tem início uma jornada para a produção de acervo de pesquisa sobre a literatura de Pedreiras. Num estado em que se diz não ter muito sobre a sua literatura, embora o Maranhão tenha uma história literária riquíssima é oportuno que se faça um esforço para reunir o que se tem e seja posto à disposição dos estudantes e dos leitores em geral uma coletânea da caminhada literária deste povo.

Em Pedreiras, já é realidade. Nos últimos dias a Faculdade de Educação São Francisco – FAESF foi palco de apresentações espetaculares com destaque para dois trabalhos monográficos de estudantes do curso de letras que fugiram totalmente às características costumeiras dos TCCs, onde, ao contrário do que se via antes, análises de obras de poetas e escritores de projeção nacional, os acadêmicos ousaram escrever sobre vultos da literatura pedreirense. Samuel Barrêto se aventurou em mergulhar na obra de seu pai João Barrêto, analisando com autoridade o poema “O Lixo” que faz um relato da cidade de Pedreiras desde datas remotas, sem citar nomes, porém tecendo um perfil fiel dos políticos e apontando os problemas sociais existentes, que sempre incomodaram a população e serviram como pretexto para a coleta de votos em eleições sucessivas e a aquisição de verbas para obras inexistentes. “Nos bons tempos de comício, / o progresso tem início/marcado pra logo mais / falam ilustrados doutores / e alguns vereadores / de planos fenomenais (BARRÊTO, 2010, p. 29).”

Foi uma apresentação belíssima que impressionou a banca examinadora e lhe rendeu nota máxima, além de contribuir como acervo da biblioteca da instituição e da cidade com uma fonte fidedigna de pesquisa para os estudantes que necessitarem. O outro trabalho foi produzido pelas acadêmicas Natânia Reise Josilady Pintoque discorreram sobre a obra do colega de curso, o poeta Samuel Barrêto “A Rua da Golada e sua Identidade”. Um livro de crônicas em que de forma simples bem humorada conta histórias de sua gente e põe em discussão as questões sociais que as preocupam. Foi uma oportunidade em que muitos poderiam ter aproveitado para rever seus conceitos em relação ao que se escreve em Pedreiras e para conhecer melhor sobre essa riqueza de escritos que se tem e que é pouco explorada.

Infelizmente, apesar de ser permitido o livre acesso, ainda é bem pequeno o número de pessoas que se interessam em participar de eventos dessa envergadura, mas aos poucos a população passando a conviver mais de perto com os efeitos das produções literárias poderá adquirir uma consciência mais livre de preconceitos, como achar que escrever é para desocupados. Desocupados não escrevem, perambulam. Intelectuais sim, escrevem e profetizam. As produções ora apresentadas soam como parte da alvorada anunciada no inicio deste texto. É o amanhecer da história literária pedreirense. Parabéns Samuel Barrêto, parabéns igualmente a Natânia Reis e Josilady Pinto.

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