por Rita Pereira de
Oliveira
Foto: Pedras Verdes |
Assim como o ser humano repete um ritual diário em busca
da sobrevivência, também a cidade pode se tornar acomodada na evolução e
conservação de sua cultura, bem como, na produção de acervo adequado de fontes
consistentes de informação ao seu povo, aos visitantes atentos e aos acadêmicos
que reconhecem e respeitam as manifestações culturais de seu povo e buscam
conhecê-las.
Falando de Pedreiras, quem a conhece sabe que detém um
potencial cultural diversificado. Muito se fala sobre a capacidade dos
pedreirenses de produzir trabalhos de grande valor, na poesia, nas danças, na
música etc., porém, a oralidade pode difundir informações ao longo de uma vida,
mas não representa uma fonte segura, fidedigna dos fatos. Somente o que está
escrito formaliza a credibilidade do que se propaga.
Em se tratando de literatura, Pedreiras tem sido fecunda.
A vila que foi berço de povos indígenas do grupo “Tupi”, posteriormente forçados
a sair do Médio e se estabelecerem no Alto-Mearim para não serem dizimados
dando lugar ao poderio de fazendeiros usurpadores do patrimônio desses nativos.
Com esses fazendeiros vieram os escravos que passaram a fazer parte da
estatística étnica deste território, que recebeu os migrantes fugitivos da seca
que assolava o nordeste, sobretudodo Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte desde o
inicio do século XX, pois foram sucessivas e violentas estiagens. Viu nascer
Corrêa de Araújo, João do Vale, Kleber Lago, João Barrêto e Samuel Barrêto
entre outros tantos.
O que se tem de história está nos registros da Paróquia
de São Benedito em alfarrábios conservados desde o ano de 1940 e em um
documentário histórico intitulado “A fonte nas Pedreiras”, organizado por Pe.
Jacinto Brito enquanto pároco desta igreja.
Há um documentário organizado por Aderson Lago “Pedreiras
apontamentos para sua história” que até pouco tempo, era a fonte mais popular e
também mais consultada.
Recentemente foi lançado pelo historiador Darlan Pereira,
“Pedreiras Fundamentos da sua história”, que reúne informações importantes e
servirá como fonte de pesquisa para quem interessar.
Sobre a literatura pedreirense que, em prosa e versos reúne
uma plêiade das mais completas. Ainda não se havia despertado para a
necessidade de construir a história artística deste município tão rico em
manifestações culturais diversas, como a poesia, as crônicas, a música, as
danças e muitas outras. Os poetas e escritores têm suas obras publicadas para o
deleite dos amantes da leitura e da poesia, mas o que dizer da história desse
comportamento artístico? Pois tem início uma jornada para a produção de acervo
de pesquisa sobre a literatura de Pedreiras. Num estado em que se diz não ter
muito sobre a sua literatura, embora o Maranhão tenha uma história literária
riquíssima é oportuno que se faça um esforço para reunir o que se tem e seja
posto à disposição dos estudantes e dos leitores em geral uma coletânea da
caminhada literária deste povo.
Em Pedreiras, já é realidade. Nos últimos dias a
Faculdade de Educação São Francisco – FAESF foi palco de apresentações
espetaculares com destaque para dois trabalhos monográficos de estudantes do
curso de letras que fugiram totalmente às características costumeiras dos TCCs,
onde, ao contrário do que se via antes, análises de obras de poetas e
escritores de projeção nacional, os acadêmicos ousaram escrever sobre vultos da
literatura pedreirense. Samuel Barrêto se aventurou em mergulhar na obra de seu
pai João Barrêto, analisando com autoridade o poema “O Lixo” que faz um relato
da cidade de Pedreiras desde datas remotas, sem citar nomes, porém tecendo um
perfil fiel dos políticos e apontando os problemas sociais existentes, que
sempre incomodaram a população e serviram como pretexto para a coleta de votos
em eleições sucessivas e a aquisição de verbas para obras inexistentes. “Nos
bons tempos de comício, / o progresso tem início/marcado pra logo mais / falam
ilustrados doutores / e alguns vereadores / de planos fenomenais (BARRÊTO,
2010, p. 29).”
Foi
uma apresentação belíssima que impressionou a banca examinadora e lhe rendeu
nota máxima, além de contribuir como acervo da biblioteca da instituição e da
cidade com uma fonte fidedigna de pesquisa para os estudantes que necessitarem.
O outro trabalho foi produzido pelas acadêmicas Natânia Reise Josilady Pintoque
discorreram sobre a obra do colega de curso, o poeta Samuel Barrêto “A Rua da
Golada e sua Identidade”. Um livro de crônicas em que de forma simples bem
humorada conta histórias de sua gente e põe em discussão as questões sociais
que as preocupam. Foi uma oportunidade em que muitos poderiam ter aproveitado
para rever seus conceitos em relação ao que se escreve em Pedreiras e para
conhecer melhor sobre essa riqueza de escritos que se tem e que é pouco
explorada.
Infelizmente, apesar de ser permitido o livre
acesso, ainda é bem pequeno o número de pessoas que se interessam em participar
de eventos dessa envergadura, mas aos poucos a população passando a conviver
mais de perto com os efeitos das produções literárias poderá adquirir uma
consciência mais livre de preconceitos, como achar que escrever é para
desocupados. Desocupados não escrevem, perambulam. Intelectuais sim, escrevem e
profetizam. As produções ora apresentadas soam como parte da alvorada anunciada
no inicio deste texto. É o amanhecer da história literária pedreirense.
Parabéns Samuel Barrêto, parabéns igualmente a Natânia Reis e Josilady Pinto.
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