sábado, 13 de abril de 2013

Tributo a João Barrêto II :João de Sá Barrêto, Menestrel Pedreirense



João de Sá Barrêto, Menestrel Pedreirense

Raimundo Carneiro Corrêa


“... o poeta de expressão espontânea, rica e forte.
Kleber Lago

A humana migração buscou o rio onde beber, banhar-se, cultivar o vale verde mata. E, para não morrer, mata.
A floresta, para que a terra possa frutificar o arroz, o milho, o algodão, a cana-de-açúcar. Porque a família humana ama e se funda, fecunda, e se faz cidade.
Cidade do olhar a ver terra e céu, um morro com forma de sagrado peito de gaia, ponto a marcar-se com uma cruz. Onde humanidade e divino se encontram e se aparece o santo São Benedito. Pedreiras, então o nome, que a comunidade fala e, pela região, espalha e onde a poesia escolhe quem a diga palavra beleza do destino riqueza que a cidade tem para seu povo.
Povo que se identifica no ser arte, a auto afirmar-se em poesia, música, artes plásticas, educação, comércio, indústria, ciências!... Pedreiras de João de Sá Barrêto, Pedreiras de Corrêa de Araújo, João do Vale, Dr. Josélio, Dr. Lobato, este que lhe deu os símbolos de sua beleza glória identidade. Pedreiras dos políticos bons e maus que ultimamente deram-se, estes maus em maioria, a demagogiar, usar a política como farsa... E, então, é que nos aparece o Menestrel João Barrêto.
Com a poesia que não se conteve e foi ao comício que se fez comédia poema de cordel, mas como ouro anel nas mãos dos pedreirenses, riqueza verbal como vara de uma bela surra a chamar a atenção para o problema lixo, no poema “Lixo”, que se inicia assim:

“Nos bons tempos de comício,
O progresso tem inicio
Marcado para logo mais.”

Logo mais” dos demagogos para que a população lhes dê espaço de tempo esquecimento até o próximo pleito, tempo em que se acumule “... lixo raçudo / vai cobrir aquilo tudo.”
Utilizando-se do verso em redondilha maior, por sua expressividade linguagem popular, cria o autor poema denúncia do que a cidade mais carece: carinho, limpeza que, pobremente, mas rima com beleza. Quem não quer ser achado belo amado?!... A cidade então!...
Cidade abraço cidadão. Que chama à intervenção da poesia para contar-lhe também sua dor. E, como num curativo que faz doer, assopram os lábios amorosos sobre o remédio que causa dor no ferimento, João Barrêto usa o trágico e o cômico e até o realismo fantástico quando dá personalidade ao lixo, “que anda triste e chorando/ procurando onde ficar!”
    Lixo que sobra! Sobras do mal resultado de ausência do que seria uma política pública de coleta e destinação planejada dos sujos que o coletivo viver produz. Que de tão largado lixo tornou-se poema da coragem a traduzir-se amor solidariedade com o sofrimento da população que teve de conviver com a sujeira que lhe compromete a saúde e o bem estar social. Sujeira que é marca dos nossos tão baixos índices de desenvolvimento humano. Tão baixos, por quê?!
O poeta esclarece:
“Certo é que todos penam
Mas os doutores acenam,
Prometendo e prometendo
A salvação muito urgente.” 
“Prometendo, prometendo,” a repetição enfática do que já se comentou. A indústria da alienação que mantém as massas em vergonhoso analfabetismo político que dá razão ao provérbio popular que sentencia: “o povo tem o governo merece.”
“Ai, coitada de Pedreiras,” geme o poeta, quase vencido diante do quadro que a musa, incumbiu-o de contemplar e cantar. Mas não desiste. Seu canto eterniza-se como profecia da força persistência consciência de um lutador em busca do que se realizará num futuro próximo, a transformação histórica do contexto, com sua lira a descrever com linguagem aprendida gramática popular. A marcar época, tempo página de sua escrita para as leituras atuais e do porvir, tanto por intelectuais, também o povo que ainda não sabe ler.   
Cantoria cativante, sem arrefecer o ritmo, corajosamente cantador, realista, universal pelo que tornou como tema, problema das convivências sociais urbanas.
E tão igualmente regional.
Seu cuidado por Pedreiras, cidade mulher que carece de um banho de cheiro, vestir-se melhor, calçar sandálias para dançar à música da sanfona do Zé Caxangá, personagem do poema ,música de João do Vale, o “pisa na fulô”!
Fonte popular, a festa, que João Barrêto visitava para colher inspiração que o fez também clássico autor de sonetos de admirável perfeição formal, demonstrando consciência, temática e técnica na composição do poema. A produzir uma obra poética engajamento com qualidade antológica, tal como o faz Ferreira Gullar no seu “Poema Sujo”, ao retratar, poetizar uma São Luís tão suja, pobre, necessitada de amor, tal a Pedreiras do poema “Lixo”.
A leitura cantoria de “Lixo”, enfim compromete o leitor a também ver, brigar, denunciar e... Ajudar-se também com a compreensão de que é produto nosso, do nosso viver economia amor e festa. Cuidemos do nosso lixo para que não seja de outros e cuidando para que a comédia comício transforme-se em encontro debate a construir com responsabilidade nosso projeto de cidadania que se enflore e dê frutos de viva sadia democracia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário