Dia 11 de abril nos deixa um gosto de saudade na Poesia... é o dia em que partiu o poeta pedreirense João Barrêto, uma voz poética que eternamente nos falará!
João Barrêto. Tela de Álvaro Pacheco |
Pálida Lembrança
João Barrêto
Por que os anos se foram tão depressa?
Por que o tempo seguiu me não parou?
Por que segui, também, com tanta pressa
E não fiquei com tudo que ficou?
Como a tocha voraz que se arremessa
Sobre a relva que um dia o sol secou,
Foi a desdita cruel sobre a promessa
Que meu peito infeliz acalentou.
Nosso idílio tão belo, como a lua
A espelhar-se num lago de água mansa,
Unia minha alma a alma tua.
E hoje, já desfeita a esperança,
Em meu peito apenas se insinua
Uma eterna e pálida lembrança.
João Barrêto
Por que os anos se foram tão depressa?
Por que o tempo seguiu me não parou?
Por que segui, também, com tanta pressa
E não fiquei com tudo que ficou?
Como a tocha voraz que se arremessa
Sobre a relva que um dia o sol secou,
Foi a desdita cruel sobre a promessa
Que meu peito infeliz acalentou.
Nosso idílio tão belo, como a lua
A espelhar-se num lago de água mansa,
Unia minha alma a alma tua.
E hoje, já desfeita a esperança,
Em meu peito apenas se insinua
Uma eterna e pálida lembrança.
É
retórica a “Pálida Lembrança”
Ana Néres Pessoa Lima Góis
“Ainda que pregue que
não há consolo satisfatório, talvez satisfaça-nos em parte o que possa brotar
com o tempo sendo o maior conciliador...”
Como costuma dizer Samuel Barrêto citando Jessier
Quirino: “A morte é um louco roçando
mato”. Então, em sua euforia sem razão, esta colheu a presença material de
seu João Barrêto dentre nós sem nos deixar satisfação... Mas felizmente esse
“louco de foice na mão”, não pôde fazer o mesmo com seu lirismo que fincou
raízes e floriu no solo ludicamente pedregoso de Pedreiras, chegando até aos
seus arredores, de onde eu pude contemplar seu poema maior em que descobri ser
apenas retórica a “Pálida Lembrança”, que na verdade como em toda sua obra, que
conheci como leitora e agora conheço como pesquisadora, está recheada das
lembranças mais nítidas e transcrevíveis das
impressões e vivencias do poeta.
Palavreando Ferreira
Gullar em “Meu povo e meu poema crescem juntos”, João de Sá, pelo teor que nos
remete o “Barreto”, ainda em vida já tinha doado-se ao barro fértil de
pedreiras, onde mesmo as pedras grandes e pequenas, a ainda as atiradas, não o
impediram se lavrar-se juntamente com seu povo, e ainda juntamente a ele se dar
ao crescimento rumo ao comprometimento pelo bem de sua terra, e também o digo
baseado em sua obra, que este juntamente a ele, povo, se fez árvore, e em se
fazendo árvore, se fez sombra para que continuassem crescendo, pois as ervas
daninhas da politicagem às vistas de João, eram ainda a pior praga de sua terra
e de seu Rio.
Infelizmente foi pouco
o espaço de tempo que me separou do conhecimento da obra e do artista, porém,
são tão nítidas as impressões deixadas por sua pena, que chego a sentir o
timbre da voz nos esmerados acordes poéticos recitados por Seu João. Creio que
seu nome será lembrado como uma das maiores vozes poéticas de Pedreiras. Com
certeza serão comemorados ainda incontáveis anos, não de morte, mas da
imortalidade da fala do vate de voz que canta e cantará eternamente o lirismo
da nostalgia, da vida e do amor, principalmente do amor que o faz denunciar com
tom de protesto e crítica sobre os males, que à sua vista se abatem sobre sua
terra, em que agora além de poeticamente, literalmente está plantado e suas
raízes poéticas florescerão e darão frutos eternamente!
Primeira Canção de
Saudade
Para o meu Amado Pai João Barrêto
Samuel
Barrêto
A manhã se levantou lentamente nos meus olhos,
Fui tomado por um impulso de coragem e uma enorme
Vontade de ficar mais tempo nos lençóis da noite passada,
Virei de um lado para o outro, colado na amada companheira,
Mas tinha que ir. Fui... Enquanto despertava debaixo da água
Do chuveiro, pensei em muitas coisas vividas, olhei-me
No espelho e recordei profundamente do belo poema
De Quintana que tem o mesmo nome onde ali se refletia
A minha imagem, que naquele momento habitava dentro de um
Tumultuado silêncio, buscando respostas para muitas indagações.
Todos na casa dormiam tranquilamente e sol já se fazia presente
E minha alma de poeta estava sufocada com imagens do passado,
Fui até a esquina comprar o leite para o café da manhã, coisa bem
Costumeira de todos os dias, e no bar ao lado alguns bêbados
Já estavam mergulhados em muitos tragos, falavam de que? Não sei,
Só que sei que pareciam felizes. E eu continuava em pensamentos
Como se fossem redemoinhos girando dentro da minha cabeça,
Liguei o som para ouvir uma canção da minha pouca lavra,
Só que não poderia aumentar a intensidade sonora,
Pois as crianças ainda descansavam na leveza dos sonhos infantis.
Fui refazendo alguns passos da minha distante infância
E senti minhas pequenas mãos roçarem em uma espinhenta
E carinhosa barba ainda por fazer, enquanto minha Mãe
Preparava o café para todos, e não éramos poucos, além
Da gente, a casa sempre abrigava mais, e é assim a vida inteira...
Tive a sensação de ouvir aquela melodiosa voz cantando uma
Das muitas canções que ele sempre entoava, mostrando-nos
Um caminho para o bom gosto genuinamente brasileiro.
Voltei para o espelho que continuava ali como se me esperasse,
E entre lágrimas vi o rosto do meu Pai refletido no meu.
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