Uma “golada” da literatura de Samuel Barrêto
Por Ana Néres Pessoa Lima Góis
É contundente voz poética que ressoa na Princesa do Mearim, de lirismo
forte, verso bem elaborado, prosa expressiva, e como os bons poetas nos
emociona a medida que canta à sua musa, razão de ser da poesia, que muitas
vezes tem sido personalizada na sua terra e no seu povo, e assim acaba por se
adentrar em versar sua Pedreiras por muitos ângulos. Sendo Poeta militante da
arte e das causas sociais, fez de sua pena na poesia e na prosa uma arma de denúncia
em que altivamente, com a autoridade de quem realmente vive no meio do povo,
tem vez e voz para se manter nessa empreita de realmente ter o tom que sua ousadia
demanda. Sendo o uso do humor e da sátira características dos bons cronistas,
Samuel Barrêto faz uso destes artifícios, pois mesmo na critica social, para não
se tornar enfadonha, torna-se essencial o uso das características ora citadas
na medida certa.
Ainda convém ressaltar que, o Poeta
maneja das formas clássicas às populares do verso, em sua obra é grande a
produção em sonetos, sextilhas e glosas, aprecia a criatividade no mote, seja
qual for a forma das estrofes que se apresentem seus versos, sempre bem
“amarrados” prezando pelo ritmo e melodia do poema com rimas bem construídas.
Também privilegia a poesia repente, brotada enquanto recitada, assim como
constrói em versos brancos sem perder um mínimo do lirismo que lhe é peculiar.
Entre os trabalhos já publicados, o
livro “A Rua da Golada e sua Identidade” tem maior expressividade, pois
caracteriza em primeiro plano o estilo da literatura engajada do autor, sendo
que a publicação foi o resultado da junção de crônicas publicadas em jornais da
cidade de Pedreiras e um periódico da capital do Estado. Na obra citada, o escritor utiliza uma linguagem clara e popular, sem formalidades, em que já se
percebe sua marca, e praticamente sobressaltam-se das linhas, imagens e
sentenças construídas ao longo da sequencia de crônicas sua fala carregada de
lirismo por sua terra e seu grito literário que tende a passar pelo tempo e
espaço e ser ouvido para sempre, numa ladainha de quem não desiste de procurar
o melhor para sua gente e em decorrência disso também para a arte de sua gente.
Sua publicação se deu no ano de
2009, pela classificação da obra em primeiro lugar no Prêmio Gonçalves Dias de
Literatura pelo plano editorial da SECMA. “A Rua da Golada e sua Identidade”
não deixa de ser também uma obra de cunho catalográfico e memorialista.
Catalográfico porque registra acontecimentos históricos e resgata outros
trazidos de outros escritos à luz da crônica e da linguagem de Samuel Barrêto,
memorialista porque narra a trajetória do artista envolvida e tecida junto aos
acontecimentos narrados que misturam-se aos causos vivenciados e os sentimentos
arrebatados por estes.
Inicialmente a obra “A rua da Golada e
sua identidade” aborda a questão da arte em Pedreiras na crônica “A
Arte e a Imprensa”, uma militância em prol do resgate e manutenção das
manifestações artísticas e culturais da terra, e no decorrer do livro narra
conquistas e derrotas da classe artística da qual faz parte, tanto em sua
cidade quanto no contexto maranhense. Aborda também a problemática do abuso de
poder, da politicagem, assim como o fez seu pai João Barrêto em grande parte de
sua obra. A questão de gênero, hoje tão debatida, é apresentada quando faz
menção da mulher em “Tambor da Consciência”. Adentra à questão da inclusão e
cidadania em “Caridade ou Cidadania?”. Não esquecendo de também falar de um
assunto muito em voga entre os brasileiros que é a credibilidade da Justiça em
“Desconfiança com a Justiça”. Fala de Infraestrutura em “Falta d’água”.
Progresso em “Medo do Progresso”. E sobre a mídia e o capitalismo dos quais
tanto nos fazemos dependentes em “O Pior”.
São muitas e pertinentes as
abordagens sobre problemas sociais existentes na obra analisada, que perpassam
a arte, sua grande paixão, a política, as questões de cidadania e justiça
social, problemas típicos de pedreiras e do cenário nacional, trazidos à luz da
reflexão, a mesma que ilumina a consciência de cidadão de sua aldeia e do
mundo, procurando assim chamar a atenção, não por um discurso exacerbado de
ceticismo ou cinismo, mas com a prudência de mostrar de maneira e linguagem popular
e didática possível aos seus conterrâneos que às vezes ter voz, também é escrever
o que pensa e o que sente.
Enfim,
na terra de Corrêa de Araújo e outros que usam a pena com competência, essa é a
época em que Samuel Barrêto desponta como uma voz literária significante e que com
certeza afirmamos ficar registrada com fortes letras na memória literária de sua
terra e do Maranhão.
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