segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Série: A obra do Autor e o Autor da Obra I


Uma “golada” da literatura de Samuel Barrêto


Por Ana Néres Pessoa Lima Góis


Samuel Barrêto é o que se pode chamar “Poeta para a vida inteira”, cria de poeta e embalado pelas canções e versos da avó desde criança, iniciou-se cedo na leitura da literatura popular nas rodas de leitura em que se juntavam a família repartindo um só pão das letras. Seu pai, o poeta João Barrêto na orelha do primeiro livro do filho “SOS Libertação” (1997) escreve que pensava assim: “Felizmente nem um dos meus herdou-me esta vocação que faz sofrer a sua vítima na alma e no corpo”, para pouco depois receber do filho as folhas datilografadas do embrião de seu primeiro livro de poesias.
  É contundente voz poética que ressoa na Princesa do Mearim, de lirismo forte, verso bem elaborado, prosa expressiva, e como os bons poetas nos emociona a medida que canta à sua musa, razão de ser da poesia, que muitas vezes tem sido personalizada na sua terra e no seu povo, e assim acaba por se adentrar em versar sua Pedreiras por muitos ângulos. Sendo Poeta militante da arte e das causas sociais, fez de sua pena na poesia e na prosa uma arma de denúncia em que altivamente, com a autoridade de quem realmente vive no meio do povo, tem vez e voz para se manter nessa empreita de realmente ter o tom que sua ousadia demanda. Sendo o uso do humor e da sátira características dos bons cronistas, Samuel Barrêto    faz uso destes artifícios, pois mesmo na critica social, para não se tornar enfadonha, torna-se essencial o uso das características ora citadas na medida certa.
Ainda convém ressaltar que, o Poeta maneja das formas clássicas às populares do verso, em sua obra é grande a produção em sonetos, sextilhas e glosas, aprecia a criatividade no mote, seja qual for a forma das estrofes que se apresentem seus versos, sempre bem “amarrados” prezando pelo ritmo e melodia do poema com rimas bem construídas. Também privilegia a poesia repente, brotada enquanto recitada, assim como constrói em versos brancos sem perder um mínimo do lirismo que lhe é peculiar.
Entre os trabalhos já publicados, o livro “A Rua da Golada e sua Identidade” tem maior expressividade, pois caracteriza em primeiro plano o estilo da literatura engajada do autor, sendo que a publicação foi o resultado da junção de crônicas publicadas em jornais da cidade de Pedreiras e um periódico da capital do Estado. Na obra citada, o escritor utiliza uma linguagem clara e popular, sem formalidades, em que já se percebe sua marca, e praticamente sobressaltam-se das linhas, imagens e sentenças construídas ao longo da sequencia de crônicas sua fala carregada de lirismo por sua terra e seu grito literário que tende a passar pelo tempo e espaço e ser ouvido para sempre, numa ladainha de quem não desiste de procurar o melhor para sua gente e em decorrência disso também para a arte de sua gente.
Sua publicação se deu no ano de 2009, pela classificação da obra em primeiro lugar no Prêmio Gonçalves Dias de Literatura pelo plano editorial da SECMA. “A Rua da Golada e sua Identidade” não deixa de ser também uma obra de cunho catalográfico e memorialista. Catalográfico porque registra acontecimentos históricos e resgata outros trazidos de outros escritos à luz da crônica e da linguagem de Samuel Barrêto, memorialista porque narra a trajetória do artista envolvida e tecida junto aos acontecimentos narrados que misturam-se aos causos vivenciados e os sentimentos arrebatados por estes.
       Inicialmente a obra “A rua da Golada e sua identidade” aborda a questão da arte em Pedreiras na crônica “A Arte e a Imprensa”, uma militância em prol do resgate e manutenção das manifestações artísticas e culturais da terra, e no decorrer do livro narra conquistas e derrotas da classe artística da qual faz parte, tanto em sua cidade quanto no contexto maranhense. Aborda também a problemática do abuso de poder, da politicagem, assim como o fez seu pai João Barrêto em grande parte de sua obra. A questão de gênero, hoje tão debatida, é apresentada quando faz menção da mulher em “Tambor da Consciência”. Adentra à questão da inclusão e cidadania em “Caridade ou Cidadania?”. Não esquecendo de também falar de um assunto muito em voga entre os brasileiros que é a credibilidade da Justiça em “Desconfiança com a Justiça”. Fala de Infraestrutura em “Falta d’água”. Progresso em “Medo do Progresso”. E sobre a mídia e o capitalismo dos quais tanto nos fazemos dependentes em “O Pior”.
São muitas e pertinentes as abordagens sobre problemas sociais existentes na obra analisada, que perpassam a arte, sua grande paixão, a política, as questões de cidadania e justiça social, problemas típicos de pedreiras e do cenário nacional, trazidos à luz da reflexão, a mesma que ilumina a consciência de cidadão de sua aldeia e do mundo, procurando assim chamar a atenção, não por um discurso exacerbado de ceticismo ou cinismo, mas com a prudência de mostrar de maneira e linguagem popular e didática possível aos seus conterrâneos que às vezes ter voz, também é escrever o que pensa e o que sente.
Enfim, na terra de Corrêa de Araújo e outros que usam a pena com competência, essa é a época em que Samuel Barrêto desponta como uma voz literária significante e que com certeza afirmamos ficar registrada com fortes letras na memória literária de sua terra e do Maranhão.

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