quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Série Cartas ( III ) - Uma carta de impressões




                    Esperantinópolis, 06 de dezembro de 2012.

A Literatura é gerada por fatos, não somente da imaterialidade da imaginação humana e da mimese. Grandes e pequenos encontros podem gerar páginas escritas (ainda hoje), como acontecia no passado. Lembro de quando estava na faculdade, enquanto fazia um artigo sobre a obra “A gramática da Emília” de Monteiro Lobato, ter me distanciado do tema por algum tempo mergulhada na leitura de cartas trocadas pelo autor e seu amigo Rangel.
Sabemos que a função primordial da escrita é a comunicação, e sendo a comunicação necessidade básica do ser humano, a escrita passa a ser uma válvula de escape da expressividade de todos os que são dotados dos artifícios que potencializam o verbo “escrever” e a leitura de algumas cartas se torna prazerosa e instrutiva, tanto quanto uma boa obra literária. Lembrando que escritos de “cunho pessoal” também fazem parte da nossa mais elaborada Literatura, como é o caso das cartas trocadas por celebridades literárias, festejando amizades ou por desavenças, ou simplesmente publicadas por elas mesmas, como Fernando Sabino e muitos outros que tiveram seu acervo pessoal exposto aos leitores de um país inteiro como obras póstumas.

A escrita da carta remonta o início dos tempos antigos, e podemos ressaltar a Bíblia, que tem uma coleção de belas cartas endereçadas a todos os povos e a todas as épocas. Saber escrever cartas é uma habilidade em que muitos buscaram e ainda buscam competência, tanto é que existem (ou existiam?) os manuais em que se ensinam a escrevê-las, e até mesmo os livros que já as trazem prontas, uma para cada ocasião, ao gosto do leitor, ou do escrevinhador copiador que não tenha habilidade para colocar situações e sentimentos diante de uma folha em branco.

A carta, assim como o poema, surge de uma necessidade de expressão seja pelo que sentimos, vimos e desejamos comunicar através desta maravilhosa combinação de signos de uma língua que forma esse código que se chama escrita. E não posso deixar de registrar que esta carta que vos escrevo nasceu num começo de noite chuvoso, numa encruzilhada do povoado Cariri, enquanto esperava uma condução que me dirigisse para casa e as recordações das cartas que tinha lido na noite passada me tomavam, fazendo nascer esta terceira, talvez endereçada a mim mesma, pela vontade de ser capaz de empunhar tão bem a escrita quando os feitores das cartas de minhas recordações.

Partindo de todos esses preâmbulos, extensos, mas necessários, não que as próximas linhas necessitassem de tantas justificativas, mas, gostaria agora de expressar a você meu correspondente virtual, a minha alegria e nostalgia ao ler  respectivamente a troca de cartas entre os vates Raimundo Carneiro Corrêa e Francisco Brito, as quais vocês têm acesso aqui no blog Literatura do Mearim.

Foi alegre e ao mesmo tempo nostálgica a sensação de ter voltado no tempo e estar por um momento revivendo tempos clássicos, pois sempre tenho saudade de antigamente, mesmo sem nunca ter estado lá... Espero que este momento aguardado em que tivesse pronta a gestação poética para ser deitada em papel, mesmo em me tomando assim, longe de casa e de um local apropriado para a escrita eletrônica tão executada, pois o destino quis que viesse primeiramente em papel e caneta a memória registrada do ato entre estes dois vates dos quais falei.

Agora, já partindo para o teclado, onde a literatura também já tem demonstrado não minguar em suas formas e ritos, que sejam sempre eternizados momentos, e permaneçam independente da modernidade que se instale: o amor às letras, a amizade e a partilha, pois a divulgação que chegava em lombos de animais, em vapores deslizando mas águas dos rios e mares, nas primeiras e rústicas rodas a percorrerem as estradas, hoje se faz praticamente à velocidade da luz. Porém que o prazer em se fazer o que se gosta, maximize o passar do tempo que se gasta pra fazer, de tamanha satisfação.

Portanto agora, já tendo terminado de transcrever da tinta real à tinta virtual e digitando este último parágrafo, mais uma vez atrelo o passado ao presente, e faço o meu histórico registro deste momento, em que subscrevo-me deixando votos da mais alta estima.


Ana Néres Pessoa Lima Góis


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